segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Colibacilose aviária - Importância e Etiologia

A avicultura vem, ano a ano, em constante evolução e já conquistou significativa participação na produção de produtos de origem animal e grande importância socioeconômica para o país, que se tornou o terceiro produtor mundial e líder em exportação (MAPA, 2012). A produção de carne de frango chegou a 13,058 milhões de toneladas em 2011, em um crescimento de 6,8% em relação a 2010. Com este desempenho o Brasil se aproxima da China, hoje o segundo maior produtor mundial (UBABEF, 2012).
Essas posições privilegiadas tem como base uma avicultura tecnificada, que tem como finalidade aprimorar o status sanitário e produtivo dos plantéis. Na produção avícola, o principal objetivo é a obtenção de alta produtividade, aliada a baixa mortalidade, objetivando a produção de alimentos seguros e com qualidade.
A intensificação da produção na criação de aves aumentou o risco de ocorrência de epidemias, cujos prejuízos financeiros podem ser muito graves. Patologias como a salmonelose, colibacilose e micoplasmose levam a produção mais baixa, a qualidade inferior do produto e até mesmo o aumento da mortalidade.  As enfermidades que causam perdas econômicas em criações de aves domésticas são classificadas em 5 grupos, sendo que a colibacilose se destaque no grupo das doenças bacterianas de maior impacto, juntamente com a salmonelose (SALLE e SILVA, 2000 apud FORTES, 2008).
O termo colibacilose vem sendo utilizado como indicativo de infecções localizadas ou sistêmicas, cuja agente etiológico é a Escherichia coli, responsável por vários processos patológicos nas aves, atuando como agente primário ou secundário na aerossaculite, saculite, pericardite, peri – hepatite, peritonite, salpingite, onfalite, sinovite, coligranuloma, síndrome da cabeça inchada e celulite (ANDREATITI FILHO, 2006).
Escherichia coli é uma das principais constituintes da microbiota intestinal de animais. Acredita-se que a maioria dos sorotipos de E. coli seja desprovida de qualquer  fator de virulência, entretanto algumas cepas adquiriram, durante o  processo evolutivo, diferentes conjuntos de genes que lhes conferiram a capacidade de ocasionar doença, fato que determina a grande versatilidade patogênica da espécie (CHERNAKI-LEFFER et al., 2002). Em determinadas condições de estresse e debilidade das aves, as cepas patogênicas podem aumentar a multiplicação nos organismos das mesmas, alterando o equilíbrio bactéria – hospedeiro, causando doenças. 
Portanto, a colibacilose pode acarretar grandes prejuízos na indústria avícola, visto que, em uma de suas manifestações provoca lesões cutâneas, como a celulite, levando à condenação das carcaças. No Brasil, de acordo com o Serviço de Inspeção Federal, entre 2001 e 2005 as condenações parciais e totais de carcaça de frango, devido a lesões causadas pela Escherichia coli, causaram perdas de aproximadamente US$ 58 milhões na avicultura (MAPA, 2006). Sesterhenn e colaboradores (2010) mostraram, em um estudo em matadouros – frigoríficos de aves sob Inspeção Estadual no Rio Grande do Sul, que a colibacilose foi a causa mais importante nas condenações totais das carcaças, perfazendo 19,76 % em relação ao total de aves condenadas no período, gerando uma perda econômica simulada de R$ 25.070,74.

O agente etiológico da colibacilose é a bactéria Escherichia coli. Bactéria que inicialmente foi chamada Bacterium (Bacillus) coli commune e posteriormente teve o nome modificado para B. coli, antes de ser dado o seu nome atual por Castellani e Chalmers em 1919. Enquanto que o gênero foi nomeado a partir do descobridor, Theobald Escherich, um pediatra que primeiro identificou e descreveu o organismo (BARNES et al., 2008).
Pertencente à família Enterobacteriaceae, o gênero Escherichia compreende várias espécies, mas somente a Escherichia coli é um importante patógeno dos animais. Essa espécie é a principal bactéria gram negativa facultativa da flora normal do trato gastrointestinal (HIRSH e ZEE, 2003).  Escherichia coli é um bastonete curto, gram negativo, não esporulado, geralmente móvel, com flagelos peritríquios e frequentemente fimbriada. São fermentadores de lactose e apresentam colônias de cor rosa em ágar MacConkey, e algumas linhagens produzem colônias com brilho metálico em ágar eosina – azul de metileno (EMB) (QUINN et al, 2005).


Figura 1. E. coli em coloração de Gram (Bastonetes gram – negativos) 


Figura 2. Colônias com aspecto metálico de E. coli semeadas em ágar EMB 

Os patógenos intestinais podem ser divididos em categorias patogênicas, patotipos. Atualmente, seis patotipos de cepas de E. coli patogênicas intestinais são reconhecidos: E. coli enterotoxigênica (ETEC) , E. coli  produtora de Shiga toxina (STEC / EHEC) , E. coli enteropatogênica (EPEC), E. coli enteroinvasiva (EIEC), E. coli enteroagregativa (CECA) , e E. coli difusamente aderente (DAEC) (RUSSO e JOHNSON). Além destas, Russo e Johnson (2000) propuseram a sigla ExPEC (E. coli  patogênica extra – intestinal), para designar todas as E. coli  que são isoladas de infecções extraintestinais, englobando as UPEC (E. coli  uropatogênica), BMEC (E. coli associada à meningite) e a APEC (E. coli  patogênica aviária).
Antígenos somático (O), flagelar (H), e, por vezes, capsular (K) são usados para sorotipagem de E.coli (QUINN et al, 2005). Os antígenos somáticos são de natureza lipopolissacarídica localizando – se na superfície da parede celular. Os antígenos flagelares são de natureza protéica, e os antígenos capsulares são compostos de polissacarídeos. Além disso, antígenos fimbriais (F) agem como adesinas, facilitando a aderência a superfícies mucosas (QUINN et al, 2005).
Embora Escherichia coli esteja presente na microbiota normal do trato gastrointestinal e no ambiente das aves, linhagens patogênicas de possuem fatores de virulência que permitem a colonização das superfícies mucosas e subsequente produção de doença. Os fatores de virulência de linhagens patogênicas de E. coli cápsula, endotoxina, estruturas responsáveis por colonização como adesinas, invasinas, sistema de aquisição de ferro, resistência sérica, enterotoxinas e outras substâncias secretadas (QUINN et al, 2005).
É inativada a temperaturas que variam de 60 ° C durante 30 minutos a 70 ° C durante 2 minutos. O microrganismo sobrevive congelamento e persiste por longos períodos em temperaturas frias. A reprodução da maioria das cepas é inibida por um valor de pH inferior a 4,5 ou superior a 9. Algumas cepas virulentas, por exemplo, O157: H7, são tolerantes ao ácido.  Escherichia coli tem a capacidade de adquirir resistência a uma vasta gama de desinfetantes, como clorexidina, formaldeído, peróxido de hidrgênio e compostos de amônia quaternária (BARNES et al., 2008)


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