sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Vírus da Leucemia Felina (FelV)

A Leucemia Viral Felina é uma enfermidade infecto – contagiosa, estando entre as mais comuns doenças infecciosas felinas, com distribuição mundial.



O Vírus da Leucemia Felina (FeLV), desde sua descoberta, tem sido relacionado com diversas desordens em felinos, desencadeando verdadeira síndrome, que leva diversos animais a morte anualmente (TATIBANA et al., 2009; ORNELAS, 2012). Após mais de cinco décadas de sua descoberta, FeLV continua sendo um dos vírus mais importantes relacionado aos gatos domésticos (JARRETT et al., 1964) , acometendo não somente animais domésticos, bem como carnívoros selvagens.
O FeLV acomete principalmente gatos machos, jovens, não castrados, com acesso à rua, devido ao seu comportamento errante, visto que a transmissão desse vírus ocorre, principalmente, através do contato direto entre o animal infectado e o não infectado, como mordidas e lambeduras.
Os sinais clínicos em felinos domésticos podem ser bem variados ou até mesmo os animais serem assintomáticos. Podem aparecer sinais inespecíficos, que aparecem também em felinos selvagens (SLEEMAN et al, 2001). Como sinal marcante está a imunossupressão, a qual predispõe ao aparecimento principalmente de infecções secundárias.
O diagnóstico laboratorial se baseia nos exames hematológicos, bioquímicos e identificação do antígeno viral ou presença de anticorpos. Além destes, alguns diagnósticos adicionais podem ser feitos como: citologias de órgãos aumentados ou massas presentes, aspirados de medula óssea e análise de líquido pleural (NORSWORTHY et al, 2004).  
O vírus da leucemia felina (FeLV) pertence à família Retroviridae. As diferenças na morfologia, replicação, expressão e função das proteínas o incluem na subfamília Orthoretroviridade, gênero Gammaretrovirus (HIRSH e ZEE, 2003; NEIL, 2008; FENNER, 2011 apud AQUINO, 2012).
É um vírus com envoltório, RNA de fita simples, que se replica por meio de um DNA intermediário utilizando uma polimerase de DNA dependente de RNA, transcriptase reversa (HIRSH e ZEE, 2003). Ao penetrar numa célula, o RNA é transcrito em DNA (provírus) pela transcriptase reversa (RT) e é integrado ao genoma celular. Uma vez que esse provírus esteja integrado, as divisões celulares resultam em células-filhas que também contêm o DNA viral (TATIBANA et al., 2009; FIGUEIREDO et al.,2011) .
O genoma do FeLV possui três genes separados que codificam diferentes proteínas necessárias para geração de novos vírions, os  genes gag, pol e env (SILVA,2007). O gene gag codifica proteínas estruturais internas (p15c, p12, p27 e p10), o gene pol codifica proteínas envolvidas na replicação viral (Integrase, RT) e o gene env codifica proteínas do envelope viral (gp70 e p15e) (HARTMANN, 2006 apud FIGUEIREDO et al.,2011).
As proteínas do núcleo viral (p10, p12, p15, p27, RT) são imunogênicas, porém os anticorpos gerados não são eficazes para neutralização do vírus (COTTER, 1998 apud SILVA, 2007). Dentre as várias proteínas do núcleo, a p27 é a principal, pois é através deste antígeno que se detecta o vírus nos testes comercializados para FelV. A proteína gp70 do envelope define o subgrupo do vírus e possui importância na indução da imunidade, visto que os anticorpos do tipo anti – gp70 são do tipo- específicos, neutralizantes, propiciam a imunidade a reinfecção por vírus do mesmo subgrupo e são os mais importantes para imunização viral e vacinal (ETTINGER & FELDMAN, 1995; TATIBANA et al., 2009).

Vírus da Leucemia Felina. 

O FeLV é classificado atualmente em quatro subgrupos, FeLV-A, B, C e T,  identificados geneticamente de acordo com diferenças no gene env  e, funcionalmente, pela utilização de diferentes receptores para entrada na célula hospedeira (OVERBAUGH & BANGHAM, 2001). O FelV-A é a forma transmissível do vírus e está presente em todos os animais positivos para FelV, podendo estar acompanhado do FelV-B ou do FelV-C, ou de ambos. Uma vez dentro da célula, o FeLV A é capaz de se recombinar ou sofrer mutações. Apesar de ser o mais virulento, é o menos patogênico. O FeLV  - B está fortemente associado ao surgimento de neoplasias, como os linfomas, e é isolado com mais frequência do que o FeLV – C , um subtipo raro, normalmente observado em animais com anemia não regenerativa. O subgrupo C é o mais patogênico, causa anemia aplástica e surge a partir de mutações na sequência do env de FeLV-A. O FeLV – T, foi descoberto recentemente, é altamente citolítico aos linfócitos T, estando associado à depleção linfoide e  imunossupressão severa (TATIBANA et al., 2009; FIGUEIREDO et al.,2011; HARTMANN, 2006 apud AQUINO, 2012).
Como a maioria dos vírus com envoltório, o FeLV é sensível a inativação por solventes lipídicos e detergentes. É rapidamente inativado a 56º C, mas apenas apenas inativação mínima ocorre a 37º C por até 48 horas em meio de cultura. É rapidamente inativado por dessecação(HIRSH e ZEE, 2003).


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Colibacilose aviária - Importância e Etiologia

A avicultura vem, ano a ano, em constante evolução e já conquistou significativa participação na produção de produtos de origem animal e grande importância socioeconômica para o país, que se tornou o terceiro produtor mundial e líder em exportação (MAPA, 2012). A produção de carne de frango chegou a 13,058 milhões de toneladas em 2011, em um crescimento de 6,8% em relação a 2010. Com este desempenho o Brasil se aproxima da China, hoje o segundo maior produtor mundial (UBABEF, 2012).
Essas posições privilegiadas tem como base uma avicultura tecnificada, que tem como finalidade aprimorar o status sanitário e produtivo dos plantéis. Na produção avícola, o principal objetivo é a obtenção de alta produtividade, aliada a baixa mortalidade, objetivando a produção de alimentos seguros e com qualidade.
A intensificação da produção na criação de aves aumentou o risco de ocorrência de epidemias, cujos prejuízos financeiros podem ser muito graves. Patologias como a salmonelose, colibacilose e micoplasmose levam a produção mais baixa, a qualidade inferior do produto e até mesmo o aumento da mortalidade.  As enfermidades que causam perdas econômicas em criações de aves domésticas são classificadas em 5 grupos, sendo que a colibacilose se destaque no grupo das doenças bacterianas de maior impacto, juntamente com a salmonelose (SALLE e SILVA, 2000 apud FORTES, 2008).
O termo colibacilose vem sendo utilizado como indicativo de infecções localizadas ou sistêmicas, cuja agente etiológico é a Escherichia coli, responsável por vários processos patológicos nas aves, atuando como agente primário ou secundário na aerossaculite, saculite, pericardite, peri – hepatite, peritonite, salpingite, onfalite, sinovite, coligranuloma, síndrome da cabeça inchada e celulite (ANDREATITI FILHO, 2006).
Escherichia coli é uma das principais constituintes da microbiota intestinal de animais. Acredita-se que a maioria dos sorotipos de E. coli seja desprovida de qualquer  fator de virulência, entretanto algumas cepas adquiriram, durante o  processo evolutivo, diferentes conjuntos de genes que lhes conferiram a capacidade de ocasionar doença, fato que determina a grande versatilidade patogênica da espécie (CHERNAKI-LEFFER et al., 2002). Em determinadas condições de estresse e debilidade das aves, as cepas patogênicas podem aumentar a multiplicação nos organismos das mesmas, alterando o equilíbrio bactéria – hospedeiro, causando doenças. 
Portanto, a colibacilose pode acarretar grandes prejuízos na indústria avícola, visto que, em uma de suas manifestações provoca lesões cutâneas, como a celulite, levando à condenação das carcaças. No Brasil, de acordo com o Serviço de Inspeção Federal, entre 2001 e 2005 as condenações parciais e totais de carcaça de frango, devido a lesões causadas pela Escherichia coli, causaram perdas de aproximadamente US$ 58 milhões na avicultura (MAPA, 2006). Sesterhenn e colaboradores (2010) mostraram, em um estudo em matadouros – frigoríficos de aves sob Inspeção Estadual no Rio Grande do Sul, que a colibacilose foi a causa mais importante nas condenações totais das carcaças, perfazendo 19,76 % em relação ao total de aves condenadas no período, gerando uma perda econômica simulada de R$ 25.070,74.

O agente etiológico da colibacilose é a bactéria Escherichia coli. Bactéria que inicialmente foi chamada Bacterium (Bacillus) coli commune e posteriormente teve o nome modificado para B. coli, antes de ser dado o seu nome atual por Castellani e Chalmers em 1919. Enquanto que o gênero foi nomeado a partir do descobridor, Theobald Escherich, um pediatra que primeiro identificou e descreveu o organismo (BARNES et al., 2008).
Pertencente à família Enterobacteriaceae, o gênero Escherichia compreende várias espécies, mas somente a Escherichia coli é um importante patógeno dos animais. Essa espécie é a principal bactéria gram negativa facultativa da flora normal do trato gastrointestinal (HIRSH e ZEE, 2003).  Escherichia coli é um bastonete curto, gram negativo, não esporulado, geralmente móvel, com flagelos peritríquios e frequentemente fimbriada. São fermentadores de lactose e apresentam colônias de cor rosa em ágar MacConkey, e algumas linhagens produzem colônias com brilho metálico em ágar eosina – azul de metileno (EMB) (QUINN et al, 2005).


Figura 1. E. coli em coloração de Gram (Bastonetes gram – negativos) 


Figura 2. Colônias com aspecto metálico de E. coli semeadas em ágar EMB 

Os patógenos intestinais podem ser divididos em categorias patogênicas, patotipos. Atualmente, seis patotipos de cepas de E. coli patogênicas intestinais são reconhecidos: E. coli enterotoxigênica (ETEC) , E. coli  produtora de Shiga toxina (STEC / EHEC) , E. coli enteropatogênica (EPEC), E. coli enteroinvasiva (EIEC), E. coli enteroagregativa (CECA) , e E. coli difusamente aderente (DAEC) (RUSSO e JOHNSON). Além destas, Russo e Johnson (2000) propuseram a sigla ExPEC (E. coli  patogênica extra – intestinal), para designar todas as E. coli  que são isoladas de infecções extraintestinais, englobando as UPEC (E. coli  uropatogênica), BMEC (E. coli associada à meningite) e a APEC (E. coli  patogênica aviária).
Antígenos somático (O), flagelar (H), e, por vezes, capsular (K) são usados para sorotipagem de E.coli (QUINN et al, 2005). Os antígenos somáticos são de natureza lipopolissacarídica localizando – se na superfície da parede celular. Os antígenos flagelares são de natureza protéica, e os antígenos capsulares são compostos de polissacarídeos. Além disso, antígenos fimbriais (F) agem como adesinas, facilitando a aderência a superfícies mucosas (QUINN et al, 2005).
Embora Escherichia coli esteja presente na microbiota normal do trato gastrointestinal e no ambiente das aves, linhagens patogênicas de possuem fatores de virulência que permitem a colonização das superfícies mucosas e subsequente produção de doença. Os fatores de virulência de linhagens patogênicas de E. coli cápsula, endotoxina, estruturas responsáveis por colonização como adesinas, invasinas, sistema de aquisição de ferro, resistência sérica, enterotoxinas e outras substâncias secretadas (QUINN et al, 2005).
É inativada a temperaturas que variam de 60 ° C durante 30 minutos a 70 ° C durante 2 minutos. O microrganismo sobrevive congelamento e persiste por longos períodos em temperaturas frias. A reprodução da maioria das cepas é inibida por um valor de pH inferior a 4,5 ou superior a 9. Algumas cepas virulentas, por exemplo, O157: H7, são tolerantes ao ácido.  Escherichia coli tem a capacidade de adquirir resistência a uma vasta gama de desinfetantes, como clorexidina, formaldeído, peróxido de hidrgênio e compostos de amônia quaternária (BARNES et al., 2008)


I Encontro de Microbiologia de Sobral

No dia 22 de novembro de 2013, será realizado o I Encontro de Microbiologia de Sobral, na Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, Campus Betânia, CE.
O evento terá a participação de vários palestrantes além de minicursos de alto nível técnico para o desenvolvimento de discussões importantes no cenário científico nacional. A multidisciplinaridade da Microbiologia atinge os mais diversos profissionais como biólogos, médicos, enfermeiros, biomédicos, agrônomos, fisioterapeutas, farmacêuticos e áreas correlatas.
Inscrições on-line no período de 7 de outubro a 21 de novembro. 


domingo, 15 de setembro de 2013

Técnica de Gram - Uso e protocolo

Em geral, são necessárias colorações biológicas para a visualização de bactérias de modo adequado e demonstração dos detalhes finos das suas estruturas (KONEMAN, 2001). A maioria das colorações utilizadas em bacteriologia tem por finalidade o diagnóstico presuntivo rápido do processo infeccioso e também a prévia avaliação da qualidade da amostra (OPLUSTIL, 2000). A coloração de Gram é o método bacterioscópico mais importante e mais utilizado atualmente na bacteriologia e sua finalidade é a classificação de microrganismos com base em suas características tintoriais, tamanho, forma e arranjo celular (WALTERS, 1998; SPICER, 2000; MAZA et al.,2001).
A coloração clássica de Gram foi originalmente desenvolvida por Christian Gram em 1884, e modificada por Hucker em 1921, sendo amplamente utilizada na rotina, permitindo uma melhor diferenciação dos microrganismos  (ISENBERG, 1992).
É inestimável o auxílio efetivo da coloração de Gram no diagnóstico microbiológico, entretanto em algumas situações é contra indicada a sua utilização, como por exemplo, na pesquisa de estruturas bacterianas como cápsulas e esporos, ou na pesquisa de micobactérias e fungos filamentosos. Alguns microrganismos gram positivos em cultivos superiores a vinte e quatro horas podem se apresentar gram negativos. Microrganismos que sofreram ação de determinados antimicrobianos podem apresentar-se falsamente gram negativos; a recíproca não é verdadeira. Convém lembrar que a maioria das interpretações equívocas de esfregaços corados pelo Gram devem-se a falhas na preparação da lâmina, como um esfregaço demasiado espesso, excessiva fixação pelo calor, ou descoloração insuficiente ou prolongada (GARDNER e PROVINE, 1978).
A técnica consiste na utilização de diferentes reagentes que irão reagir com os componentes da parede celular das bactérias, dando uma coloração diferente.
Cristal violeta irá todas as esturturas. Cristal reage com o lugol, formando um complexo insolúvel que intensifica a cor do corante; que o ajuda a entrar na celular e irá resistir a descoloração. Gram positivas complexo mais difícil de ser removido. As bactérias Gram-positivas, que têm a parede celular composta por peptídeoglicano (peptídeo de ácido n-acetil murâmico), durante o processo de descoloração com álcool etílico, retém o corante, permanecendo com a coloração conferida pelo corante primário (roxo).  Já as bactérias Gram-negativas com parede celular composta predominantemente por ácidos graxos (lipopolissacarídeos e lipoproteínas), perdem o complexo, são incapazes de reter o violeta de Genciana, assumindo a cor do corante de fundo (vermelha).

As bactérias são classificadas basicamente em dois grandes grupos: Gram-positivas e Gram-negativa. No que diz respeito às características tintoriais, as bactérias Gram-positivas coram-se de roxo e as bactérias Gram-negativas coram-se de rosa 

Staphylococcus aureus. Bactéria Gram positiva. Fonte: http://www.microbeworld.org/component/jlibrary/?view=article&id=7611 

Escherichia coli. Bactéria Gram negativa. Fonte: http://yourweeklymicrobe.blogspot.com.br/2012/12/e-coli.html

A técnica de coloração de Gram geralmente respeita um protocolo de ações que a padroniza. O vídeo demonstra como esse protocolo deve ser seguido: