A avicultura vem, ano a ano, em constante evolução e
já conquistou significativa participação na produção de produtos de origem
animal e grande importância socioeconômica para o país, que se tornou o
terceiro produtor mundial e líder em exportação (MAPA, 2012). A produção de
carne de frango chegou a 13,058 milhões de toneladas em 2011, em um crescimento
de 6,8% em relação a 2010. Com este desempenho o Brasil se aproxima da China,
hoje o segundo maior produtor mundial (UBABEF,
2012).
Essas posições privilegiadas tem como base uma
avicultura tecnificada, que tem como finalidade aprimorar o status sanitário e
produtivo dos plantéis. Na produção avícola, o principal objetivo é a
obtenção de alta produtividade, aliada a baixa mortalidade, objetivando a produção
de alimentos seguros e com qualidade.
A intensificação da
produção na criação de aves aumentou o risco de ocorrência de epidemias, cujos
prejuízos financeiros podem ser muito graves. Patologias como a salmonelose,
colibacilose e micoplasmose levam a produção mais baixa, a qualidade inferior
do produto e até mesmo o aumento da mortalidade. As enfermidades que causam perdas econômicas
em criações de aves domésticas são classificadas em 5 grupos, sendo que a
colibacilose se destaque no grupo das doenças bacterianas de maior impacto,
juntamente com a salmonelose (SALLE e SILVA, 2000 apud FORTES, 2008).
O termo colibacilose
vem sendo utilizado como indicativo de infecções localizadas ou sistêmicas,
cuja agente etiológico é a Escherichia
coli, responsável por vários processos patológicos nas aves, atuando como
agente primário ou secundário na aerossaculite, saculite, pericardite, peri –
hepatite, peritonite, salpingite, onfalite, sinovite, coligranuloma, síndrome
da cabeça inchada e celulite (ANDREATITI FILHO, 2006).
Escherichia coli é uma das principais
constituintes da microbiota intestinal de animais. Acredita-se que a maioria
dos sorotipos de E. coli seja desprovida de qualquer fator de virulência, entretanto algumas cepas
adquiriram, durante o processo
evolutivo, diferentes conjuntos de genes que lhes conferiram a capacidade de
ocasionar doença, fato que determina a grande versatilidade patogênica da
espécie (CHERNAKI-LEFFER et al., 2002). Em determinadas condições de estresse e
debilidade das aves, as cepas patogênicas podem aumentar a multiplicação nos
organismos das mesmas, alterando o equilíbrio bactéria – hospedeiro, causando
doenças.
Portanto, a
colibacilose pode acarretar grandes prejuízos na indústria avícola, visto que,
em uma de suas manifestações provoca lesões cutâneas, como a celulite, levando
à condenação das carcaças. No Brasil, de acordo com o Serviço de Inspeção
Federal, entre 2001 e 2005 as condenações parciais e totais de carcaça de
frango, devido a lesões causadas pela Escherichia
coli, causaram perdas de aproximadamente US$ 58 milhões na avicultura
(MAPA, 2006). Sesterhenn e colaboradores (2010) mostraram, em um
estudo em matadouros – frigoríficos de aves sob Inspeção Estadual no Rio Grande
do Sul, que a colibacilose foi a causa mais importante nas condenações totais
das carcaças, perfazendo 19,76 % em relação ao total de aves condenadas no
período, gerando uma perda econômica simulada de R$ 25.070,74.
O agente etiológico da colibacilose é a
bactéria Escherichia coli. Bactéria
que inicialmente
foi chamada Bacterium (Bacillus) coli
commune e posteriormente teve o nome modificado para B. coli, antes de ser dado o seu nome atual por Castellani e
Chalmers em 1919. Enquanto que o gênero foi nomeado a partir do descobridor,
Theobald Escherich, um pediatra que primeiro identificou e descreveu o organismo
(BARNES et al., 2008).
Pertencente à família Enterobacteriaceae, o gênero Escherichia
compreende várias espécies, mas somente a Escherichia coli é um importante patógeno dos animais. Essa espécie
é a principal bactéria gram negativa facultativa da flora normal do trato
gastrointestinal (HIRSH e ZEE, 2003). Escherichia coli é um bastonete curto,
gram negativo, não esporulado, geralmente móvel, com flagelos peritríquios e frequentemente
fimbriada. São fermentadores de lactose e apresentam colônias de cor rosa em
ágar MacConkey, e algumas linhagens produzem colônias com brilho metálico em
ágar eosina – azul de metileno (EMB) (QUINN et al, 2005).
Figura
1. E. coli em coloração de Gram (Bastonetes gram – negativos)
Figura 2. Colônias com aspecto metálico de E. coli semeadas em ágar EMB
(Fonte: http://thisisradioactive.tumblr.com/post/40805537472/i-have-always-thought-colonies-of-e-coli-looked)
Antígenos somático (O), flagelar (H), e,
por vezes, capsular (K) são usados para sorotipagem de E.coli (QUINN et al,
2005). Os antígenos somáticos são de natureza lipopolissacarídica localizando –
se na superfície da parede celular. Os antígenos flagelares são de natureza
protéica, e os antígenos capsulares são compostos de polissacarídeos. Além
disso, antígenos fimbriais (F) agem como adesinas, facilitando a aderência a
superfícies mucosas (QUINN et al, 2005).
Embora
Escherichia coli esteja presente na
microbiota normal do trato gastrointestinal e no ambiente das aves, linhagens
patogênicas de possuem fatores de virulência que permitem a colonização das
superfícies mucosas e subsequente produção de doença. Os fatores de virulência
de linhagens patogênicas de E. coli cápsula,
endotoxina, estruturas responsáveis por colonização como adesinas, invasinas,
sistema de aquisição de ferro, resistência sérica, enterotoxinas e outras substâncias
secretadas (QUINN et al, 2005).
É
inativada a temperaturas que variam de 60 ° C durante 30 minutos a 70 ° C
durante 2 minutos. O microrganismo sobrevive congelamento e persiste por longos
períodos em temperaturas frias. A reprodução da maioria das cepas é inibida por
um valor de pH inferior a 4,5 ou superior a 9. Algumas cepas virulentas, por
exemplo, O157: H7, são tolerantes ao ácido. Escherichia coli tem a capacidade de adquirir
resistência a uma vasta gama de desinfetantes, como clorexidina, formaldeído,
peróxido de hidrgênio e compostos de amônia quaternária (BARNES et al., 2008)
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